domingo, 27 de junho de 2010

Possível reajuste nas tarifas de ônibus preocupa os usuários


Usuários dos ônibus e empresários já preveem prejuízos com a possível correção da tarifa dos coletivos. Governo analisa custos dos permissionários para dar uma resposta até o próximo dia 23 sobre o assunto


Saulo Araújo - Correio Braziliense
Publicação: 26/06/2010 07:00 Atualização: 26/06/2010 08:12


Depois de uma greve que durou três dias e meio, os ônibus voltaram a circular normalmente na quinta -feira última: transtorno foi geral
 - (Bruno Peres/CB/D.A Press)
Depois de uma greve que durou três dias e meio, os ônibus voltaram a circular normalmente na quinta -feira última: transtorno foi geral
O possível reajuste nas tarifas de ônibus no Distrito Federal preocupa os usuários do transporte público. A proposta dos empresários do setor — 42,5% de correção —está sendo analisada pelo governo, que promete dar uma resposta até o dia 23 do próximo mês. Mas grande parte dos passageiros já espera pagar essa conta. Quem também não está nada satisfeito com a possibilidade são os comerciantes, que serão obrigados a elevar o valor do auxílio-transporte dos empregados. Muitos trabalhadores que moram cidades distantes e precisam de duas conduções para chegar ao serviço temem a demissão. Alguns já estudam alternativas para evitar os coletivos, onde os bilhetes podem chegar a custar R$ 4,27, caso o reajuste seja autorizado.

É o caso do jardineiro Alípio Pereira dos Santos, 47 anos. Morador de Brazlândia, ele diz que, caso a correção se confirme, irá protestar boicotando o transporte público. “O governo vive fazendo operação contra o transporte ilegal. Existe coisa mais ilegal que cobrar uma passagem absurda dessa? Se a passagem realmente passar para mais de R$ 4, me recuso a dar meu dinheiro para esses empresários. Vou só pegar pirata, e não admito que nenhuma autoridade venha tentar me convencer de que estou agindo errado”, esbravejou Alípio, que trabalha no Lago Sul.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio/DF), Miguel Setembrino, conta que os empresários do setor acompanharam o desenrolar da greve com atenção. O impacto na receita das empresas, com o aumento nas passagens, preocupa os comerciantes. No entanto, ele não acha que isso pode implicar em demissões. “É lógico que um reajuste nas passagens afetará a vida financeira das empresas, pois os patrões terão que arcar com isso. As empresas procuram funcionários que tenham qualidade, mas na hora da contratação, é natural que entre duas pessoas com o mesmo perfil profissional, mas uma que mora longe e outra perto, o contratante opte por quem resida mais próximo, pensando na economia com passagem. Isso não acontece só em Brasília, mas em todo o Brasil”, disse Setembrino.

Protesto 
O presidente da Associação dos Usuários do Transporte Público do DF (Autrap), Vidal Guerra, promete iniciar uma grande mobilização contra o aumento. Uma das medidas será orientar os passageiros a não pagarem a passagem com um novo valor — atualmente, a tarifa custa, em média, R$ 2,50. De acordo com ele, o governo erra ao não ouvir o lado mais fraco nessa luta: a população. “A sociedade, em nenhum momento, foi chamada para participar do debate. Se for concedido aumento, vamos iniciar uma campanha de boicote à nova tarifa. Será um protesto legítimo e que eu espero não haver intervenção da polícia”, disse.

Já Wagner Canhedo Filho, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF, alega que o último reajuste nas tarifas ocorreu há quatro anos e meio e que, hoje, existe um deficit de 28% no setor. Se os patrões defendem um aumento com o argumento de que os preços estão congelados desde 2006, os usuários rebatem lembrando que a passagem no Distrito Federal é uma das mais altas do país. Em Goiânia, por exemplo, o bilhete mais caro custa R$ 2,25. Já em Belo Horizonte, chega a R$ 2,30.

A estudante de direito Taila Amanda da Silva, 20 anos, acha improvável que o governo vete o reajuste. “Infelizmente, como estudante, vou sofrer mais para arcar com mais esse custo. O governo vai ceder às pressões dos empresários. No nosso país, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Nada justifica esse aumento, ainda mais pela qualidade que é o transporte público em Brasília”, reclama.

O número
R$ 4,27
Valor que a tarifa mais cara pode chegar no DF, caso o governo conceda o reajuste pedido pelos empresários 




Memória
Planilha em estudo
A greve dos rodoviários durou três dias e meio e acabou na quinta-feira última. Os trabalhadores reivindicavam um reajuste de 20%, mas, em assembleia, aceitaram a contraproposta dos patrões, de 9%, que virão no próximo contracheque. As negociações entre patrões e empregados contaram com a mediação do governador Rogério Rosso (PMDB). Em uma longa reunião, que entrou pela madrugada de quinta, os empresários aceitaram conceder o aumento salarial desde que o governo analisasse a planilha que aponta deficit no setor. O GDF criou um comitê gestor para avaliar os custos das empresas. Na planilha, os permissionários afirmam transportar 21,6 milhões de passageiros por mês, sendo 2 milhões de estudantes. A receita mensal seria de R$ 57 milhões, mas, mesmo assim, eles alegam prejuízos.

O tempo da paralisação dos rodoviários foi o suficiente para transformar a vida do brasiliense num caos. Quem depende do transporte público ficou refém dos piratas, que chegaram a cobrar até R$ 20 por uma corrida. Sem ônibus, a circulação de veículos nas ruas do DF aumentou cerca de 40%, causando grandes engarrafamentos. Irritados, os passageiros pararam o Eixo Monumental e a pista em frente à plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto.



O povo fala
Como o reajuste nas passagens afetará sua vida?
Fotos: Rafael Ohana/CB/D.A Press 




Isônio Turquim Barbosa, 51 anos, motorista, morador da Estrutural 
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“Mais uma vez, quem vai pagar o pato é o pobre do trabalhador. Moro na Estrutural e essa passagem cobrada hoje, de R$ 3, já compromete uma boa parte da minha renda. O governo não está interessado na gente, está comendo nas mãos dos empresários.”
















Domingas Aparecida Barbosa, 47 anos, cabeleireira, moradora de Brazlândia 
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“A passagem de Brasília já é a mais cara do Brasil e os ônibus são os piores. Sinceramente, vai ficar difícil andar de ônibus. Eu tenho carro, mas prefiro andar só aos fins de semana para economizar, mas se aumentarem ainda mais o preço das passagens, vai ficar mais barato tirar o carro todos os dias da garagem. Espero que o governador não seja frouxo e bata de frente com os gananciosos, que são donos dessas empresas.”














Micaele Aladina, 24 anos, dona de casa, moradora de Sobradinho 
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Eu já andei em ônibus tão lotado que tinha que me equilibrar num pé só, por falta de espaço. Não é possível que teremos que pagar mais de R$ 4 para andar nessas porcarias. Eu tenho medo de pegar ônibus aqui em Brasília, principalmente quando estou com minha filha. Tudo é ruim, desde os motoristas mal-educados, ônibus velhos até a passagem cara.















Manoel Messias de Sena, 66 anos, encanador. morador de Planaltina 
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“Eu não recebo auxílio-transporte para trabalhar. Não sei como vou fazer se aumentar. Não dá para pagar mais de R$ 10 por dia com ônibus. O jeito vai ser tentar convencer um pirata a cobrar o valor de hoje. Acho essa ideia de aumentar o preço dos ônibus um absurdo. Em nenhum lugar do Brasil é assim, essa história de que os empresários não têm lucro é mentira.”












Opinião do internauta
Leitores do Correio comentaram no site a reportagem sobre o possível aumento de tarifa de ônibus no Distrito Federal. Veja algumas opiniões:

Danúbia Rodrigues Silva 
“O senhor Canhedo está ficando pobre? Coitado!”

Cláudia Silva 
“Como houve a mobilização Fora Arruda, vamos fazer uma Fora Canhedo e o seu monopólio. É uma vergonha a capital não ter transporte eficiente e ainda o cidadão pagar para ser transportado como gado.”

Rhamires Ferreira Mourão 
“É uma vergonha esse transporte no DF. Estamos pagando caro pela má gestão de governantes passados.”

Eugênia Silva 
“Mais de R$ 4 para ficar uma hora e trinta minutos na parada esperando um pau- de-arara para ir trabalhar?
É demais!”

Lucas Loredo 
“Isso é uma vergonha, um tapa na nossa cara!”

Thiago Lima 
“Absurdo desembolsar R$ 4,27 para pegar um ônibus acabado, cheio, e, de quebra, com um motorista mal-humorado descendo a lenha no coletivo.”


Júlio Lucas 
“Quando estive em São Paulo vi o nojo que é o transporte do DF. Lá se paga R$ 2,70 e tem-se direito a quatro viagens, incluindo o metrô, que é integrado.”

Deonildes Santos 
“Os empresários usaram e prejudicaram toda a população para obter o aumento que tanto queriam.”

Sebastião Mira da Silva 
“Manda o ‘seu’ Wagner pagar as multas que deve ao Detran.”

José Barros 
“A passagem em Floripa (Florianópolis) é R$ 2,20 e é uma cidade turística. O ônibus é integrado em terminais e você anda para todo canto.”

Jailson Sá 
“Já não bastasse a capital da corrupção, agora capital dos especuladores, dos ladrões. Onde vai parar? Que vergonha ter um transporte ridículo e ainda um aumento de passagem.”

Roberto Vieira 
“Por que não há licitação para novas empresas há mais de 45 anos ? Por que o MP se cala?”

José Favacho 
“Pagar R$ 4,27 pela passagem e continuar usando as carroças da Viplan é, no mínimo, uma humilhação.”

Fabrício Sampaio 
“O Entorno Sul está refém da empresa Anapolina como o DF está refém das três maiores empresas de ônibus.”

Irenice Santos 
“Isso é novidade para alguém? Pois, para mim, não é.”

Rosângela Barros 
“Sempre desconfiei que os empresários estavam por trás dessa greve.”

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Rodoviários decidem encerrar greve




Mariana Moreira - Correio Braziliense
Publicação: 24/06/2010 11:42 Atualização: 24/06/2010 13:24

Os rodoviários decidiram, em assembleia na manhã desta quinta-feira (24/6), terminar com a greve de ônibus. A categoria aceitou, por unanimidade, a proposta de reajuste salarial de 9%.
Depois de quatro dias de paralisação e muito transtornos à população, o que deixou as paradas lotadas hoje, os rodoviários acataram a proposta apresentada ontem (23/06). Além do reajuste de 9% sobre o salário, foram concedidos benefícios como cesta básica e tíquete alimentação.
O acordo coletivo também está mantido e, com isso, os grevistas serão abonados dos dias de paralisação.
Ficou acordado que, após a assembleia, a categoria seguiria para as garagens e os ônibus começariam a circular normalmente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passageiros bloqueiam Eixo Monumental com fogo em protesto conta demora dos ônibus




Gabriela Lima
Mariana Branco
Publicação: 14/06/2010 19:28 Atualização: 14/06/2010 20:02 - Correio Braziliense

Irritados com a demora dos ônibus, passageiros que aguardavam na Rodoviária do Plano Piloto bloquearam as seis faixas do Eixo Monumental no sentido Esplanada-Palácio do Buriti. Eles atearam fogo em papelões e sacos plásticos retirados dos contêiners de lixo do terminal.

O protesto teve início por volta das 19h, horário de grande movimento na via, e deixou o trânsito congestionado na altura do Buraco do Tatu até a Esplanada dos Ministérios. A alternativa para o motorista é desviar o caminho pela L2 Norte.


Algumas pessoas esperam por transporte desde às 15h. Para evitar que os ônibus circulem com a catraca liberada, as empresas desviaram a rota dos carros, que não estão passando dentro do terminal rodoviário. Motoristas e cobradores que permitiram a entrada de usuários nos coletivos sem o pagamento da tarifa foram impedidos, por fiscais das empresas, de deixar o local.

A liberação das catracas é uma inovação na greve dos rodoviários. A paralisação às avessas teve início na manhã desta segunda-feira (14/6). Durante o dia, a categoria ficou dividida quanto a seguir ou não a decisão, tomada ontem em assembleia, de deixar os passageiros entrarem nos coletivos sem pagar a tarifa. Eles temem perder o emprego, já que isso configuraria carona e poderia lhes render uma demissão por justa causa.

Aguarde mais informações.

domingo, 13 de junho de 2010

Rodoviários decidem suspender greve geral


A partir desta segunda-feira, ônibus devem circular pela cidade sem cobrar passagem


Publicação: 13/06/2010 13:20 Atualização: 13/06/2010 15:52 - Correio Braziliense

>>Diego Amorim
>>Ana Elisa Santana
>>Jacqueline Saraiva



Em assembleia realizada no início da tarde deste domingo (13/6), os rodoviários decidiram não cobrar passagens dos ônibus durante os próximos dias. Uma greve geral estava programada para esta segunda-feira (14/6), mas a categoria decidiu circular com catracas liberadas em vez de paralisar as atividades. Cerca de 4,5 mil pessoas estavam presentes, de acordo com o Sindicato dos Rodoviários.

Rodoviário exibe cartaz durante assembleia: categoria pode adotar outras ações como forma de protesto - (Kleber Lima/CB/D.A Press )
Rodoviário exibe cartaz durante assembleia: categoria pode adotar outras ações como forma de protesto
Inicialmente, a categoria votou pelo adiamento da paralisação em uma semana, mas a maioria dos presentes deu resposta negativa. Então, um dos representantes do sindicato sugeriu a catraca livre. A ideia foi aceita, mas muitos rodoviários deixaram a assembleia insatisfeitos, alegando que sentiram imposição do sindicato para a definição.

A decisão foi tomada por receio da multa diária R$ 100 mil, imposta pela Justiça, que seria paga caso a categoria não cumprisse a determinação de que 60% dos coletivos circulem durante a paralisação. Outro ponto relevante para a escolha do sindicato foi o fato de o governador Rogério Rosso ter se mostrado disposto a ajudar nas negociações.

Os rodoviários podem, ainda esta semana, adotar outras ações como forma de protesto: suspender os 30% extra da frota (meia viagem), que circulam nos horários de pico, ou continuar com as catracas livres e seguir realizando protestos ao longo da semana.

É possível que os empresários impeçam os ônibus de saírem da garagem nesta segunda.  Os donos das empresas de ônibus, no entanto, ainda não confirmaram a informação e não se manifestaram oficialmente sobre o assunto. A única declaração dada até por volta de 14h é que esta decisão do sindicato é ilegal.

Sem negociação
Durante reunião realizada esta manhã entre sindicatos da categoria e o governo, não houve propostas para o fim das paralisações. Ambos alegam que, sem o aumento das tarifas cobradas hoje, não há possibilidade de reajustes.

Promessa de caos
Sem ônibus, a expectativa é de filas no metrô, congestionamento intenso devido ao maior número de veículos nas ruas e prejuízo para a população. A Justiça determinou que 60% das linhas de ônibus circulem durante a paralisação e o sindicato que representa os trabalhadores recorreu à Justiça trabalhista para baixar esse percentual para 20%, mas teve o recurso negado e garante que vai cumprir a determinação. Caso a decisão, pedida pelos patrões, não seja cumprida, a entidade pode desembolsar multa diária de R$ 100 mil.

Reivindicações

Os rodoviários pedem um reajuste salarial de 20%, além de aumento igual no tíquete cesta básica. Eles querem ainda plano de saúde, licença maternidade de seis meses, fim da obrigatoriedade da jornada extra e renovação da frota de ônibus com motor traseiro.

Empresários garantem que não vão impedir circulação de ônibus com catraca livre




Ana Elisa Santana
Diego Amorim
Publicação: 13/06/2010 15:57 - Correio Braziliense


Os donos das empresas de ônibus do DF descartaram a possibilidade de impedir que os coletivos saiam das garagens nesta segunda-feira (14/6). Em assembleia no início da tarde deste domingo (13/6), os rodoviários decidiram que circularão com as catravas liberadas em vez de paralisar as atividades.


De acordo com a assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF, a decisão dos rodoviários é ilegal, e se eles de fato circularem sem cobrar passagens, terão que responder tanto criminalmente quanto no âmbito trabalhista. Os empresários deverão tomar as medidas judiciais possíveis para impedir que o protesto seja feito desta forma.