Usuários dos ônibus e empresários já preveem prejuízos com a possível correção da tarifa dos coletivos. Governo analisa custos dos permissionários para dar uma resposta até o próximo dia 23 sobre o assunto
Saulo Araújo - Correio Braziliense
Publicação: 26/06/2010 07:00 Atualização: 26/06/2010 08:12
Depois de uma greve que durou três dias e meio, os ônibus voltaram a circular normalmente na quinta -feira última: transtorno foi geral |
É o caso do jardineiro Alípio Pereira dos Santos, 47 anos. Morador de Brazlândia, ele diz que, caso a correção se confirme, irá protestar boicotando o transporte público. “O governo vive fazendo operação contra o transporte ilegal. Existe coisa mais ilegal que cobrar uma passagem absurda dessa? Se a passagem realmente passar para mais de R$ 4, me recuso a dar meu dinheiro para esses empresários. Vou só pegar pirata, e não admito que nenhuma autoridade venha tentar me convencer de que estou agindo errado”, esbravejou Alípio, que trabalha no Lago Sul.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio/DF), Miguel Setembrino, conta que os empresários do setor acompanharam o desenrolar da greve com atenção. O impacto na receita das empresas, com o aumento nas passagens, preocupa os comerciantes. No entanto, ele não acha que isso pode implicar em demissões. “É lógico que um reajuste nas passagens afetará a vida financeira das empresas, pois os patrões terão que arcar com isso. As empresas procuram funcionários que tenham qualidade, mas na hora da contratação, é natural que entre duas pessoas com o mesmo perfil profissional, mas uma que mora longe e outra perto, o contratante opte por quem resida mais próximo, pensando na economia com passagem. Isso não acontece só em Brasília, mas em todo o Brasil”, disse Setembrino.
Protesto
O presidente da Associação dos Usuários do Transporte Público do DF (Autrap), Vidal Guerra, promete iniciar uma grande mobilização contra o aumento. Uma das medidas será orientar os passageiros a não pagarem a passagem com um novo valor — atualmente, a tarifa custa, em média, R$ 2,50. De acordo com ele, o governo erra ao não ouvir o lado mais fraco nessa luta: a população. “A sociedade, em nenhum momento, foi chamada para participar do debate. Se for concedido aumento, vamos iniciar uma campanha de boicote à nova tarifa. Será um protesto legítimo e que eu espero não haver intervenção da polícia”, disse.
Já Wagner Canhedo Filho, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF, alega que o último reajuste nas tarifas ocorreu há quatro anos e meio e que, hoje, existe um deficit de 28% no setor. Se os patrões defendem um aumento com o argumento de que os preços estão congelados desde 2006, os usuários rebatem lembrando que a passagem no Distrito Federal é uma das mais altas do país. Em Goiânia, por exemplo, o bilhete mais caro custa R$ 2,25. Já em Belo Horizonte, chega a R$ 2,30.
A estudante de direito Taila Amanda da Silva, 20 anos, acha improvável que o governo vete o reajuste. “Infelizmente, como estudante, vou sofrer mais para arcar com mais esse custo. O governo vai ceder às pressões dos empresários. No nosso país, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Nada justifica esse aumento, ainda mais pela qualidade que é o transporte público em Brasília”, reclama.
O número
R$ 4,27
Valor que a tarifa mais cara pode chegar no DF, caso o governo conceda o reajuste pedido pelos empresários
R$ 4,27
Valor que a tarifa mais cara pode chegar no DF, caso o governo conceda o reajuste pedido pelos empresários
Memória
Planilha em estudo
A greve dos rodoviários durou três dias e meio e acabou na quinta-feira última. Os trabalhadores reivindicavam um reajuste de 20%, mas, em assembleia, aceitaram a contraproposta dos patrões, de 9%, que virão no próximo contracheque. As negociações entre patrões e empregados contaram com a mediação do governador Rogério Rosso (PMDB). Em uma longa reunião, que entrou pela madrugada de quinta, os empresários aceitaram conceder o aumento salarial desde que o governo analisasse a planilha que aponta deficit no setor. O GDF criou um comitê gestor para avaliar os custos das empresas. Na planilha, os permissionários afirmam transportar 21,6 milhões de passageiros por mês, sendo 2 milhões de estudantes. A receita mensal seria de R$ 57 milhões, mas, mesmo assim, eles alegam prejuízos.
O tempo da paralisação dos rodoviários foi o suficiente para transformar a vida do brasiliense num caos. Quem depende do transporte público ficou refém dos piratas, que chegaram a cobrar até R$ 20 por uma corrida. Sem ônibus, a circulação de veículos nas ruas do DF aumentou cerca de 40%, causando grandes engarrafamentos. Irritados, os passageiros pararam o Eixo Monumental e a pista em frente à plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto.
O povo fala
Como o reajuste nas passagens afetará sua vida?
Fotos: Rafael Ohana/CB/D.A Press
Isônio Turquim Barbosa, 51 anos, motorista, morador da Estrutural
Domingas Aparecida Barbosa, 47 anos, cabeleireira, moradora de Brazlândia
Micaele Aladina, 24 anos, dona de casa, moradora de Sobradinho
Manoel Messias de Sena, 66 anos, encanador. morador de Planaltina
Opinião do internauta
Leitores do Correio comentaram no site a reportagem sobre o possível aumento de tarifa de ônibus no Distrito Federal. Veja algumas opiniões:
Danúbia Rodrigues Silva
“O senhor Canhedo está ficando pobre? Coitado!”
Cláudia Silva
“Como houve a mobilização Fora Arruda, vamos fazer uma Fora Canhedo e o seu monopólio. É uma vergonha a capital não ter transporte eficiente e ainda o cidadão pagar para ser transportado como gado.”
Rhamires Ferreira Mourão
“É uma vergonha esse transporte no DF. Estamos pagando caro pela má gestão de governantes passados.”
Eugênia Silva
“Mais de R$ 4 para ficar uma hora e trinta minutos na parada esperando um pau- de-arara para ir trabalhar?
É demais!”
Lucas Loredo
“Isso é uma vergonha, um tapa na nossa cara!”
Thiago Lima
“Absurdo desembolsar R$ 4,27 para pegar um ônibus acabado, cheio, e, de quebra, com um motorista mal-humorado descendo a lenha no coletivo.”
Júlio Lucas
“Quando estive em São Paulo vi o nojo que é o transporte do DF. Lá se paga R$ 2,70 e tem-se direito a quatro viagens, incluindo o metrô, que é integrado.”
Deonildes Santos
“Os empresários usaram e prejudicaram toda a população para obter o aumento que tanto queriam.”
Sebastião Mira da Silva
“Manda o ‘seu’ Wagner pagar as multas que deve ao Detran.”
José Barros
“A passagem em Floripa (Florianópolis) é R$ 2,20 e é uma cidade turística. O ônibus é integrado em terminais e você anda para todo canto.”
Jailson Sá
“Já não bastasse a capital da corrupção, agora capital dos especuladores, dos ladrões. Onde vai parar? Que vergonha ter um transporte ridículo e ainda um aumento de passagem.”
Roberto Vieira
“Por que não há licitação para novas empresas há mais de 45 anos ? Por que o MP se cala?”
José Favacho
“Pagar R$ 4,27 pela passagem e continuar usando as carroças da Viplan é, no mínimo, uma humilhação.”
Fabrício Sampaio
“O Entorno Sul está refém da empresa Anapolina como o DF está refém das três maiores empresas de ônibus.”
Irenice Santos
“Isso é novidade para alguém? Pois, para mim, não é.”
Rosângela Barros
“Sempre desconfiei que os empresários estavam por trás dessa greve.”